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Os Pássaros

Os Pássaros

João Tamura Miguel Ropio

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O meu pai nasceu numa ditadura
Quantos braços a seguram?
Falsos passos que perduram, o tempo não tem cura
As pedras não se calam nem as feras nos aturam
A fome traz a merda; corre, cavalo de guerra
Como perdoar o mal quando o corpo tudo lembra?
Posições temporárias de vidas tão precárias
Vítimas da máquina, quão sádica esta pátria?
Nem as guerras nos separam
As mesmas mãos que rezam, matam
Vingança quer sangue, nós e fotos de Ren Hang
A correr atrás do belo como tantos
Na busca da rima pura que é escrita em Singapura
As luas da vida dura são filhas da ditadura
E nós filhos de minas, ruas, dos 90's que nos sangram
De relações falhadas mas de pais que nos amam
As flores e a falta delas
As cores que nos são belas
Deste corpo leva a sorte, da janela nasce o norte
Diómede Menor: a mais bela parte da morte
Porquê que o mundo é tão cru para mim?
Porquê que o tempo é tão injusto assim?
Estamos só à espera de morrer
Enquanto só queremos viver
Isto é um álbum para o eterno sobre a merda que vivemos
Sobre a terra onde morremos
Sobre o tempo que se arrasta no passar dos anos
Enquanto a pele se gasta e enterramos quem amamos
Os dias que contamos à espera do fim do mês…
Isso é medo de morrer ou de viver de vez?
Isto é um disco sobre o peito e sobre o seu declínio
Sem monopólios, promotoras, managers ou patrocínios
Gravado por amigos — só assim me faz sentido
Quão só foi o caminho?
E não são canções de amor, mas sobre o amor
Sobre os rasgos e os estragos que no corpo a dor
Deixa para sempre — e nós choramos corpos mortos
Todos somos outros, todos temos cortes
Na cidade dos Corvos, Cidade sem Nome
Em cena os finais todos que houve no meu corpo
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