Olhos Que Condenam

Vários olhares, similares
Falsos radares, visão incauta
Nem sei quem são
Desconheço a feição
E ainda assim, minha vida em pauta
Violência peralta
Que desde do nosso nascimento
Nos torna mais um refém do crivo
Jurisprudência?
Beira do abismo é residência
Onde a morte é paga com dinheiro vivo
Cara e cor de bandido
O enredo perfeito pra justificar
O nosso sangue derramado
Mais um «gente de bem» armado
Corpo estirado. Se não arruma um porquê
«Hora e lugar errado»
Sem festa na casa do nego João
Dona Maria chora
A perda do Singelo Menestrel
A luz das velas clareava
Que pra eles o nosso lugar de fala
É o banco dos réus
A família chorou
Uma lágrima rolou, rolou
Mais uma história que acabou
Como a pétala da flor
Que o vento levou, levou
Se inocência fosse segurança
Criança não morria, já dizia outro Leandro
Mais um menor, um tiro de fuzil no peito
Prova que isso não é só um verso
É o cotidiano
2018 eu passeando com meu filho
Ao ver um camburão
Ele me disse chorando:
«Papai eu tenho medo da polícia»
PORRA, Cauã só tinha 5 anos
Foi sicrano, beltrano
Choro, dor e agonia
Mais um pai de família
Que a estrela não brilha
Uma mentira
E tornam a nossa morte verdade
Pra mídia? Era só mais um Silva
Comoção? Regalia
Dos que nunca perderam a vida
Só por carregar a cor de nossa pele
Seus likes em orgia
Ai vidas negras importam?
Só naquela porra de hastag
Cês nadam no contraditório
Fato irrisório
O ódio de acessório
Pra nós? Um destino simplório
Aqui a desgraça tem auditório
É o purgatório
Ontem foi baile
Hoje velório
É ilusório
Viver na beira do colapso
Sonhando com a paz
Foi mais um jovem preto!
É que pra nós chega mais cedo o tarde demais
A família chorou
Uma lágrima rolou, rolou
Mais uma história que acabou
Como a pétala da flor
Que o vento levou, levou