Senhor dos Céus

Eu disse-te mais que uma vez para não ligares a rumores
Todas as peças de teatro começam nos bastidores
A montagem do cenário, a maquilhagem, o vestuário
A ligação das luzes, a combinação das cores
Quis curar a depressão com um ramo de flores
Mas o técnico de produção deu-me uma injeção p’ras dores
Lotação esgotada, falhei a encenação, missão falhada
Eu nunca tive cara para ter dois amores
Viro a página, não escorrem lágrimas
Viramos máquinas básicas manipuladas pela dor
Aqui acabas a seguir pegadas e por mais caminhadas
Que faças sabes que nada tem aquela cor
Batidas clássicas são como copos de água em terras áridas
Anatomia é mágica e eu só quero compor
Hoje a Lua é a minha insónia, conversas lunáticas
Levam-me a sítios onde os vícios têm mais sabor
Preciso de protetor solar, tipo que tenho medo de amar
Então eu pego no heroísmo e levo-o até à angra
Não percebo nada de romantismo, só sei rimar
Mas há sempre um período em que todo o amor sangra
Alguém diz: «anda»
E eu vou sem propaganda descobrir quem sou
Sou quem se levanta da cama com tanta gana que voou
Tipo senhor dos céus por cima dos carros
Tou a passar os Pirinéus e ainda vou nos preliminares
Alguém diz: «anda»
E eu vou sem propaganda descobrir quem sou
Sou quem se levanta da cama com tanta gana que voou
Tipo senhor dos céus por cima dos carros
Tou a passar os Pirinéus e ainda vou nos preliminares
De Lisboa a Paris vejo-o feliz de férias no Algarve
Tipo Jan Pierre de volta a aldeia trocou de carro
Amor não se dá, quando não há intensidade
Mas por cá isso vale tanto como um perfume caro
Sinais de fumo, não há solidão que impeça
O meu coração de viver de pressa
Uma trip, um último grito, eu tripo com o último golo
Mas com um copo para os dois não perco o controlo
Não quero ficar na mesma, quero fazer valer a pena
Mas pena só as galinhas e nessas claras não há gema
E geme consoante o tema, eu remo consoante a drena
E faço disto constantemente um problema
Sem guardar rancor, sem julgar ninguém, sem apontar o dedo
Quando houve quem fizesse do meu coração um buraco negro
Houve quem fizesse trinta por uma linha para a minha caneta deixar de escrever
Mas ainda é cedo
Alguém diz: «anda»
E eu vou sem propaganda descobrir quem sou
Sou quem se levanta da cama com tanta gana que voou
Tipo senhor dos céus por cima dos carros
Tou a passar os Pirinéus e ainda vou nos preliminares
Alguém diz: «anda»
E eu vou sem propaganda descobrir quem sou
Sou quem se levanta da cama com tanta gana que voou
Tipo senhor dos céus por cima dos carros
Tou a passar os Pirinéus e ainda vou nos preliminares
Eu vivo sem medo do futuro, com medo de tudo
Mas nem daqui a tão cedo eu cedo a minha atitude
A vizinha diz que no fundo eu até sou bom miúdo
Mas ainda mais no fundo eu sinto que isso é só um truque
Ela não gosta de mim, eu nunca gostei muito dela
Há 10 que eu fumo no jardim, há 20 que ela está à janela
A vida passa, como o fumo da passa passa por ela
À espera que o filho volte a casa e se abrace a ela
E eu penso coitada da velha, sentada no tédio
Aconselha toda a gente que entra e sai do prédio
Hoje fiz mais um corte na sobrancelha e ela comenta
«Puto de merda nunca mais tem remédio»
Que raio de juízo é esse, que raio de remédio é esse
Se a doença é caso sério e a vida fez com que ela envelhecesse
Com que ela se esquecesse sem sofrer de Alzheimer
Eu só queria poder abraçar a minha mãe boy