Procuro-te em todos os carros cinzentos com medo de ver o lugar do pendura
ocupado
Queria voltar ao teu Atlântico, dançar o teu samba com uma criança mascarada no
Carnaval
Ando pela cidade sozinho, caminho quilómetros pelo deserto dos prédios,
longe da paz, fujo ao estar parado
As saudades assam, o ciúme carboniza, casais em restaurantes, tenho medo da
verdade do meu amor
Suplico em suplício, agarro-a no precipício, ela deixa-se cair…
À mercê da sua mão, memórias, ruas, sítios, silêncios cúmplices, sorriso, perdão
O frio, insensível, fio inquebrável, a negligência inaceitável que altera o
amanhecer
Enquanto isto, o cliente não quer saber, o serviço é para fazer até o dia
entardecer
Limpo a glória do teu corpo, és minha mais um pouco
À noite caço ciumento, tento ver no escuro desgovernado, agarro o coração para
não ficar acordado
Já choro a horas certas num alívio calculado
As lágrimas caem modestas
A música que faz sentido, a letra, a musa, a valeta
Um cego sem ampulheta, o «Aconchego» da Tieta
Então volto a estar sozinho
Cada dia é uma noite
Acabou
O dia nasce, a esperança pérfida de acabar contigo