Xo Satanás

No outro dia passaste por um homem morto
Achas que ele talvez tenha saltado da varanda e como o cabrãozinho que és,
tentas fazer algum tipo de estrutura do que quer seja que sentiste enquanto
estugavas o passo. Vá, por exemplo, houve um momento antes dele saltar da sua
varanda no sexto piso e houve um momento após e esses momentos foram o mesmo
momento e no seu centro estava um estremecimento de complexidade simplista
Podias espalhá-los pelo chão
Podias chamar-lhe um gorefest
Mas não, não vou deixar que lhes chames isso
Quero que penses neles como uma fronteira
Como uma linha cruel e recortada que nem tu nem eu alguma vez empurraremos com
as mãos. «Nada existe», tu dizes isso
Tudo é feito de bófias, tu sabes isso
Tu vês um homem e assumes que ele apagou de cerveja ou cavalo e depois vês o
saco de sangue e cérebro a que podemos também chamar imaginação ou uma
complicação menor na cronologia e distância
E desespero
Dizes por exemplo que a metade em falta do crânio dele é o céu
E que nele podemos encontrar
O centro da nossa terra
Isto é a parte escondida do céu era onde a cara dele estava e as sílabas que
manteve lá
Não há nome que consiga satisfazer isto. Nenhum sistema hermético pode alterá-lo
Nenhum estrato bancário ou sentença de juiz. Daqui a 3 horas vais descer seis
lances de escadas e vais atravessar a estrada e passar por ele outra vez e não
não vai estar lá ninguém. Corpo nenhum
Nem um vestígio de sangue ou baba, nem fronteiras
Mas os ossos dele vão lá ficar para sempre
E haverá dias em que odeias tudo. Preocupado somente com os que estão presos do
outro lado das mais brutais afiadas e arbitrárias cercas
Estes escritórios de ossos
Estas cidades e estes desertos
Tudo levado pelo terramoto
Xô Satanás! Xô Satanás! Xô Satanás!
Segunda divisão, nunca mais!
Xô Satanás! A máquina voltou! A máquina voltou!
Fernandão é brocador, esse Bahia é brocador!