Anda Fazer a Festa

Anda fazer a festa, hoje chega o turista
Oferece-lhe o teu ponto de vista
Anda, trá-lo prá festa, não sejas egoísta
Assim se saberá se se ajusta
Para tantos a cidade estar melhor ou não nem é assunto
Só vendê-la a qualquer preço sem contar com o futuro — é que importa, ponto
Das particularidades que a traziam velha e meio podre
Vão-se forjando sem remorsos falsas virtudes
Anda fazer a festa, hoje paga o turista
Vende-lhe o teu ponto de vista
Anda trá-lo prá festa, não sejas derrotista
Sabendo-se ao que se vai pouco custa
Tudo o que por aqui há acaba por custar-lhe quase nada
Sem qualquer regulação, fica aberta a autoestrada — prá especulação
Fosse só com souvenirs, com comes, bebes e comboinhos
Mas pelo caminho lá se vão as casas p’ra habitação
Anda fazer a festa, é tudo pró turista
Há que ser empreendedorista
Anda e faz-se a festa, como dita a revista
Traz o teu traje de portuguesista
O tradicional, o cool, o popular e o cosmopolita
Do nada reinventados, travestidos de gourmet — que é afinal o quê?
Até custa a acreditar que a loucura está só no começo
Isto é p’ra quem a revolução se tem p’ra quem é retrocesso
Anda fazer a festa, acautela o turista
Esclarece-lhe o teu ponto de vista
Anda e faz-lhe a festa, tanto p’ra que resista
Para que alcance a nossa descrença
Um dia acaba a festa, é só fogo de vista
Não há como ser só pessimista
Quando acabar a festa, e do oportunista
Ser-nos-á exigida resposta
Funda-se outra cidade, sobre o que sobrar desta
Com os foguetes e os canos da véspera
E do rio à avenida, da avenida à ponte
Recomeça-se uma outra festa